Homo Tudo Sapiens (ou: “Como Eu Amo Meu Landau”)

Posted in Artigos by empreendedorargh on 21/08/2008

Tempos atrás fui questionado em uma lista de discussões ao inserir o seguinte argumento, todo cheio de pompa e rebuscamento, como é típico dos grandes argumentos da humanidade:

“Design social é chato”

Pronto! foi o pivô de cucurbitações extasiantes, ofensas aleatórias e respostas que pareciam quase, mas não totalmente, completamente diferentes um debate construtivista (valeu, Douglas Adams!).

A verdade é que, com tantos modismos indo e vindo anexados no discurso de nosso querido design, fica extremamente difícil manter um foco sobre a atuação profissional. Quem pensa no design focado em marketing e administração corre o risco de ser taxado de “fomentador do consumismo”, “sanguessuga de moedas”, “porco capitalista” ou coisa pior. Quem analisa com foco em temas sociais, por outro lado, é “inimigo da profissão”, “populista”, “panfletário” ou ainda “profissional incompetente que virou professor” (esta última é a mais clássica). Nem caio no risco de citar sustentabilidade aqui – o termo mais em voga na nossa insignificante esfera azul nos últimos anos, e também o de significado real mais obscuro (chegando, neste quesito, a passar para trás com honras outros clássicos: “agregar valor”, “paradigma”, “interdisciplinariedade” e o meu preferido, “design como ferramenta competitiva estratégica”).

Para piorar, há, no Brasil, uma cultura estranha de que o lucro é pecaminoso. Ao mesmo tempo que empresas são vistas com maus olhos quando mostram publicamente que estão muito mais preocupadas em gerar dividendos que em salvar o planeta, um profissional de design que abandona o discurso social em troca de clientes é um “vendido” ou “prostituto”. Embalagens longa-vida são difíceis de se reciclar. Logo, quem desenha embalagens longa-vida é vilão. Quem diz “Não! Eu só trabalho com papel reciclado” para o cliente é herói. Isso ocorre mesmo que a longo prazo a atuação do primeiro se mostre como mais sustentável que do segundo, porque é difícil de analisar nestes casos relações de causa e efeito mais aprofundadas – e como tanto diz Steven Levitt em seu Freakonomics, relações de causa e efeito puras e diretas são difíceis de encontrar. Assim, talvez o primeiro designer possa estar contribuindo mais para nosso “mundo feliz” que o segundo sem sequer perceber isso – enquanto o outro, ao escolher trabalhar com determinados produtos sem conhecer a fundo seus ciclos de vida, pode estar causando um impacto ambiental muito maior, apesar das boas intenções.

Esse exemplo simples da complexidade de se trabalhar com design social é útil para entendermos outros “problemas” que inevitavelmente todo designer acaba enfrentando em sua vida profissional, como por exemplo a “indispensável educação” de clientes. Da mesma forma que um designer atrapalhado pode causar um dano ainda maior ao ambiente ao querer, na verdade, reduzí-lo, um designer com a melhor das intenções de educar seus clientes para o valor da atividade pode causar o efeito inverso e criar uma aversão eterna ao design. Essa é a consequência de guiar atos pelo senso comum.

Independente do rumo profissional que queremos seguir, independente das escolhas que fazemos, ter foco é essencial. Designers tem o péssimo hábito de querer mudar o mundo – partindo do princípio que o mundo queira ser mudado – e de pensar que ele é assim justamente por não conhecer o potencial do nosso trabalho. Besteira. Nós não somos deuses. Não somos super-heróis, nem temos as respostas para todos os problemas. E, principalmente, não precisamos forçar a existência de um aspecto social no design porque o design *é* social em sua essência. É uma redundância.

Proponho uma troca, então: deixemos de lado esta nossa prepotência – este nosso pretensionismo – e consideremos atitudes mais singelas. Você quer educar as pessoas para o design? Então que tal educar a si mesmo para entender as pessoas? Seus clientes vão agradecer. Você quer ajudar a criar um mundo mais verde? Estude bastante e vá fazer um mestrado ou doutorado (aliás, por que designers odeiam tanto livros?) em alguma linha de pesquisa ligada a sustainability design. Escreva uma tese bacana. Publique. Crie um caminho e mostre ele para o mundo, trocando achismos por fatos.

Ah, sobre o Galaxie Landau, para quem não sabe, era o carro top de linha da Ford até 1983 – um gigante de cinco metros e meio por dois, que (bem regulado) faz uma média de 3,5 km/l. Um tremendo poluidor na atmosfera. Sem problemas – durante a semana eu ando de bicicleta, então equilibro minhas emissões as de carbono. E eu durmo bem à noite.

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Artigo originalmente publicado no blog http://www.design.com.br em julho/2008.

Entrevistargh! Sincro Design

Posted in Entrevistarghs! by empreendedorargh on 15/08/2008

Entrevistado: Jaakko Tammela

Área: Design

Serviços que oferecem: PESQUISA + ESTRATÉGIA + DESIGN

Sócios:
Jaakko Tammela
, designer de produto, diretor de estratégia
Marco Maia
, designer de produto, diretor de criação

Quantidade de funcionários: 09

Localização: Rio de Janeiro, RJ e Florianópolis, SC

Ano de fundação: 2006

site: http://www.sincrodesign.com

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Qual foi sua formação?

Me formei na Puc-Rio em design de produto, em 1999. Depois fiz MBA em Marketing em 2002.

Como você era como aluno?

Na faculdade eu era um aluno normal. Comecei a estagiar desde cedo, segundo ou terceiro período. O que me lembro mais é que eu costumava sempre fazer além do que os professores pediam. Eu achava que sempre dava para fazer melhor e me esforçava para tal.

Quais foram suas experiências profissionais pré-empresa?

Estagiei numa fábrica de móveis para escritório (M&L Magalhães), também desenvolvi pequenos utilitários e móveis para empresas de pequeno porte (Casa Finland e Ipê, em Teresópolis – RJ), depois fui para um escritório de arquitetura (A2 Arquitetos) trabalhar com mobiliário urbano (Rio Cidade II), na mesma época tive um pequeno estágio (Ado Azevedo) em paralelo na área de produto (móveis e eletrônicos). Depois fui para outro escritório (HOK Design) trabalhar com PDV. Abri um escritório com mais 02 amigos (Dialeto design), não deu certo… Fui trabalhar na Índio da Costa Design, sai e montei mais um escritório (Miolo Design), que se transformou na SINCRODESIGN.

De onde (e por quê) surgiu a idéia da empresa? Quanto tempo até ela se transformar na empresa em si?

Sempre tive vontade de ter o meu próprio negócio. Em todos os lugares que passei, sempre tive bem claro o tempo que pretendia ficar, o que queria aprender para montar o meu conhecimento e então investir no meu negócio próprio. Quando sai do meu último emprego, pretendia viajar, mudei de idéia por motivos pessoais e na época (2004) percebia que era um ótimo momento para a abertura de um escritório. Via o crescimento do interesse das empresas em investir em design, o interesse da mídia e via também uma maneira de juntar o que havia aprendido nos lugares que havia trabalhado e no MBA.

Como foi o contato e a relação com o primeiro cliente?

O contato foi na cara e coragem, sem indicação ou conhecimento prévio, se tornou o nosso primeiro projeto, um fogão doméstico-industrial. A relação foi muito boa e até hoje mantemos contato com ele.

Qual foi seu maior fracasso?

Não sei escolher o maior. Mas sempre estamos errando e acertando, faz parte do crescimento! Sempre que achamos a maneira “certa” de realizar algo, acabamos testando uma nova maneira, para ver com é “fazer diferente” assim estamos sempre evoluindo e, por conseqüência, errando também. Mas a pior coisa que já aconteceu foi um erro de interpretação de um briefing, que fez com que o trabalho fosse todo refeito. No final tudo deu certo, o produto é sucesso de venda e sucesso de prêmios. Aliás a empresa é nossa cliente até hoje! Erros te permitem evoluir!

Hoje, como é seu cotidiano na empresa?

Hoje sou responsável pela área de estratégia da empresa e também cuida da área administrativa. Divido minha semana entre reuniões, atendimento e participação em projetos.

Como você lida com os aspectos administrativos da empresa?

Cuido da parte mais global, os detalhes de contas a pagar, caixa, etc, tenho ajuda.

O que você procura nos candidatos a emprego em sua empresa?

Isso depende da área que ele vai ingressar. Mas o que é geral a todos é que compartilhem dos nossos valores.

Como você vê a concorrência em sua área hoje?

Bastante forte e com um ótimo crescimento. O mercado como um todo tem evoluído bastante. Estamos tirando proveito disso assim como outros também.

Como é o mercado de trabalho na sua área para um jovem graduado em design?

O mercado de design de produtos sempre foi muito fechado, mas aumentou significativamente nos últimos anos. Mesmo assim ainda não é comparável a área de web ou gráfica.

Qual foi o maior sucesso da empresa?

Sempre aposto no futuro lançamento.

Você pode dar uma idéia do crescimento da empresa em faturamento e número de funcionários através dos anos?

A empresa é nova, 02 anos. Qualquer valor que te fale agora será irreal. Mas estamos crescendo além do planejado, só isso já é bastante animador.

Empreendedorargh! na UP!!

Posted in EU QUERO PARTICIPAR!, Próximas edições by empreendedorargh on 04/08/2008

50% DE DESCONTO para estudantes da Universidade Positivo!

Design para Fracassados

Posted in Artigos by empreendedorargh on 04/08/2008

por Luiz Fernando Pizzani

Failure is one of those things that “serious people dread”. Invariably, the persons most likely to be crippled by this fear are those people who have convinced themselves that they are so bitchen they souldn’t even be placed in a situation where they might fail. Failure is nothing to get upset about. It’s a fairly normal condition; an inevitability in 99% of all human undertakings. Success is rare – that is why people get so cranked up about it.

– Frank Zappa

Eu tenho um interesse crescente em escrever um livro sobre fracassos. Prateleiras e mais prateleiras de nossas adoráveis bibliotecas e livrarias do dia-a-dia estão entupidas de leituras de casos de sucesso, o que se tornou algo muito pior que uma praga – pelo menos no que tange aos livros de negócios. O mesmo pode não ocorrer com design, mas sejamos sinceros, achar um bom livro de design sem figurinhas já é difícil em primeiro lugar. De qualquer forma, empresas de design, assim como empresas de qualquer área, nascem e morrem a todo momento. Algumas mais afortunadas crescem e cravam seu nome na mídia (ou pelo menos na mídia que interessa aos clientes específicos daquela empresa). É relativamente fácil encontrar essas, assim como conhecer suas histórias. Mas e as que morrem? Para onde vão?

Toda empresa começa de um núcleo similar: um grupo de duas ou mais pessoas com um interesse em comum: ganhar dinheiro. Podem haver um zilhão de outros motivos (“odeio meu chefe”, “encontrei um nicho”, “quero mudar o mundo”), mas se alguém abre uma empresa sem ter a intenção do lucro já está cometendo um erro em primeiro lugar. Nesse caso, é infinitamente melhor abrir uma ONG. Você dorme em paz à noite e ainda ganha ajuda do governo para isso. Considerando que não seja esse o caso, uma vez constituída a empresa, ela logo passa por uma fase um tanto complicada: você tem finanças a cuidar, mas não tem expertise nem muito menos cacife para contratar um bom profissional da área. Você tem boa vontade, mas não tem clientes (e, as vezes, nem sequer portifólio). Você as vezes não tem nem sequer uma boa sala comercial, tendo que aguentar vizinhos barulhentos, inevitáveis complicações climáticas e uma certa claustrofobia. E isso que nem chegaram as primeiras contas brabas para pagar. E é nesse momento, quando os sócios estão com os nervos à flor da pele, que a empresa passa pela sua primeira grande crise existencial: aquela em que um olha para a cara do outro e começa a pensar seriamente em porque diabos aquele cara, que sempre foi tão companheiro em botecos pela vida, trabalha com tanto afinco quanto um senador em mandato vitalício no congresso nacional. Ou ainda: “fazer freelas/ ter um chefe era mesmo tão ruim assim?”. Mal a empresa começou e ela já está perigosamente perto do fim.

Relacionamento é sempre um item delicado. Talvez seja por isso que há muitos milênios sábios monges das altas montanhas do noroeste de algum lugar obscuro escreveram em suas tábuas de sabedoria: “Amigos, amigos, negócios à parte”. É um clichê dos nossos dias. Mas um clichê que sempre fez (e ainda faz) todo o sentido. Enquanto estamos na universidade, é comum nós criarmos grupos de trabalho conforme nossos grupos sociais – é muito mais divertido fazer um trabalho com aquele cara que sabe fabricar cerveja em casa que com o fã do Hans Donner que usa óculos exquisito. Mas uma vez que estejamos agindo em um nível profissional, as potencialidades passam a ser muito mais importantes que eventuais desavenças de gostos. É claro que um bom relacionamento entre os sócios é fundamental para a empresa que está nascendo, mas faz mesmo tanta diferença o fato do cidadão ser fã do Calypso?

Conheço um caso muito bom de fracasso que veio de algo bem similar. E é bom deixar claro: só conheço o caso à fundo justamente por ele tratar de grandes amigos meus. Empresários falidos não tendem a ser muito gentis em relatar as desavenças internas que eventualmente levaram à ruína suas empresas. O caso é o seguinte: dois amigos de faculdade, pouco depois de formados, resolvem montar empresa de design. Para montar seu portifólio, usam seus trabalhos como freelancers e trabalhos acadêmicos. Logo atraem alguns clientes e assim vão crescendo – ou assim parece. Meses depois resolvem dissolver a sociedade. O que aconteceu? Enquanto um dos sócios era mais pró-ativo e gerencial, o outro era puramente operacional. Em outras palavras, um ótimo profissional, mas que nada fazia sem uma ordem superior. Muito bom em várias empresas – mas não em uma recém-fundada, com apenas duas pessoas trabalhando. Obviamente, brigas começaram a acontecer, e, para não perderem a amizade, encerraram a sociedade.

Fazendo um contraponto (porquê contrapontos sempre são legais), a esmagadora maioria das empresas de design que eu pesquisei até hoje surgiu de forma muito similar à citada acima. A diferença está no que veio depois – e como os sócios-empreendedores aprenderam a lidar com as adversidades. Afinal, levar tombos é comum em qualquer projeto na vida. Levar tombos, se levantar, sacudir a poeira e seguir em frente é o que diferencia bons empreendedores. Pelo menos, é isso que as centenas de livros de casos de sucessos mostram. E de novo, é por isso que amo estudar os fracassos. Feliz ou infelizmente, sabemos que a vida real não vem em livros de auto-ajuda; A vida real é suja, deselegante, ordinária e cruel. E deliciosamente divertida.

[nota: artigo originalmente publicado no http://www.design.com.br]