Eu Já Esqueci Mais Do Que Você Um Dia Vai Saber

Posted in Artigos by empreendedorargh on 23/11/2008

(artigo publicado originalmente na coluna ArghDesign do design.com.br)palestra-copy

Assim que terminar meu pretensioso livro sobre fracassos, já tenho uma nova e brilhante idéia: criar um livro sobre “pop-design”. Surgiu assim: Uma hora de enrolação no aeroporto de Manaus por precisar remarcar minha passagem para São Paulo, uma visita rápida a uma livraria, um olhar de revesgueio para a prateleira dos infames livros de “como-ascender-na-carreira-e-ficar-rico” e presto! Me surge uma Eisenbahn em meio às Kaisers: “Abaixo o Pop-Management!”, uma coletânea das colunas de Thomas Wood Jr na Carta Capital, pelo singelo preço de R$9,90. Se o título fez meu cérebro respirar feliz, o conteúdo equivaleu a uma injeção de meta-anfetamina atrás da orelha. ”Pop Management”, na concepção do livro, é a repetição constante de mantras da profissão por pessoas com preguiça de estudar coisas novas e/ou um profundo interesse em lucrar com as idéias alheias. No campo da administração isso gera um tremendo problema, visto que nunca duas empresas serão exatamente iguais (e portanto, receitas de bolo não existem!). Soa familiar?

“Abaixo o Pop-Management” está merecidamente em segundo lugar na minha lista de livros de negócio prediletos. O primeiro (e incontestável até agora) segue com “Por Que as Pessoas de Negócios Falam Como Idiotas?” – aliás, outro forte candidato a ter uma versão para designers saindo de minhas maltraçadas linhas em breve.

Os livros podem ter servido como lâmpadas, mas quem forneceu a eletricidade para a brilhante nova idéia foram dois artigos publicados recentemente neste mesmo blog. O primeiro é da coluna do Bob Wollheim no W News, publicado aqui pelo colega Fernando Galdino. O artigo é a expressão mais pura de um “Pop-Manager” em ação. A transmutação de um ser comum nessa praga de palestras motivacionais é mais fácil de entender do que parece. A administração é provavelmente a única área onde se pode seguir uma carreira escrevendo livros novos todo ano sobre exatamente o mesmo assunto, mudando apenas a ordem dos capítulos, e continuar vendendo milhões. Isto ocorre porque, apesar de haver muita gente fazendo pesquisa séria sobre a área, a picaretagem domina com larga vantagem o mercado.

O problema é que há algum gene empoeirado circulando nas nossas células que faz que continuemos atrás de alívio espiritual para as incertezas do cotidiano. Na prática, nós precisamos que alguém nos conte uma história bonitinha e diga que tudo vai dar certo no final (até a Xuxa já fez dessa). Tom Peters escreve: inovação é a chave. Logo, dá-lhe mais e mais tratados anencéfalos sobre inovação estratégica. Dolabela escreve: empreendedorismo é a salvação. E dá-lhe “especialistas” sobre o assunto surgindo da noite pro dia. Muitas vezes nem é má vontade, é preguiça de estudar mesmo. De novo: soa familiar?

O que leva ao segundo artigo, do prof. Ricardo Martins (sobre “deus-signers”). Este chegou até levantar certa polêmica, e explica com uma clareza enorme a versão “pop-management” do design – ainda que o autor nem cite a expressão. Pop-designers são os primos pobres dos Pop-managers. Ambos tentam montar uma carreira baseada em sua própria inépcia (ou má-vontade) de conhecer novas idéias e reciclar seus conhecimentos. Designers com esse perfil estão em todo lugar. Quando não têm diploma, são rotulados de “micreiros” e marginalizados. E quando têm? Se design mata, como diz Ivens Fontoura, quem vai assegurar que tais personalidades e seus egos fiquem bem longe da sociedade civilizada? Da mesma forma como um leitor de Você S/A nunca será um executivo de sucesso justamente por perder tempo lendo Você S/A, um designer nunca será, de fato, um verdadeiro designer enquanto não perceber que as “estrelas” são exceções e nunca a regra – e os verdadeiros designers bem-sucedidos estão ralando e estudando, atrás de seus micros, para entregar para seus clientes e colaboradores nada menos do que a melhor solução possível. E não tem glamour nenhum nisso.

Um exemplo bacana da contestação ao “pop-management” em toda sua frondosa plenitude é uma brincadeira infelizmente ainda pouco popular no Brasil chamada buzzword bingo. Funciona assim: em cartelas comuns de bingo, em vez de números, são anotados chavões do mundo corporativo, como “agregar valor”, “quebrar paradigmas”, “pensar fora da caixa”, “blue-sky thinking” e por aí vai. Durante uma palestra ou conferência, as cartelas (secretamente) são distribuídas, tornando o ato de sentar a bunda em uma carteira enquanto uma pobre alma lança palavras vazias ao ar (intercaladas com as clássicas tiradas à la Jerry Seinfield pra quebrar o gelo) muito mais divertida. A brincadeira, inclusive, virou tema de uma propaganda recente da IBM. Não é uma tremenda idéia para usarmos no design?

De “agregadores de valor” e “modificadores de paradigmas” já bastam os pop-managers. De designer megalomaníaco já tem o Hans Donner e tá bom demais.

(Em tempo: O terceiro melhor livro de negócios na minha prateleira é O Restaurante no Fim do Universo, segunda parte da “trilogia de cinco livros” do Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams – mais precisamente o capítulo 32, que me lembra de praticamente todos as reuniões em fórums de design das quais já participei. Ah, e para quem achou o título do artigo arrogante, ele é na verdade de uma música um tanto divertida, que você escuta aqui)

Empreendedorargh vai à Paraíba!

Posted in Sem categoria by empreendedorargh on 23/11/2008

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De quinta a domingo da semana que vem, em João Pessoa, estará ocorrendo o 6º R Design Norte-Nordeste – e o Empreendedorargh! marcará presença com uma palestra e com o Espaço Argh, com camisetas, buttons, chaveiros e adesivos oficiais do projeto!

A palestra terá como nome “Voadoras Fotográficas – A arte de consolidar uma marca profissional” (sugestão divertida de Fernando Reule), embora seja, de fato, um bate-papo bacana sobre carreira e oportunidades no design.

Assim está descrita no release oficial: “A palestra trata com bom-humor da maior dificuldade de qualquer estudante de design: desvendar o mercado o trabalho. Através do depoimento dos fundadores de mais de 20 empresas dá área, de gigantes como GAD e Seagulls Fly à jovens empresas recém-formadas, dá pra entender como evitar as armadilhas da profissão e como o estudante pode se “emancipar” das limitações das universidades e se tornar alguém que realmente faça a diferença no nosso país – criando uma “marca pessoal” que possa ser reconhecida como sinônimo de profissionalismo. A palestra aborda também as diferenças entre ser freelancer, criar uma carreira e montar sua própria empresa de design – e, é claro, o que tudo isso tem a ver com as tais voadoras.”

E em 2009, é Empreendedorargh Nordeste Tour! Aguardem!!

Starck X Starck

Posted in Artigos by empreendedorargh on 23/11/2008

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Você acredita no design?

Há cerca de um ano atrás, um nobre amigo escreveu um texto curto sobre o não-acreditar em design. Nele, o Ceviano em questão (Eduardo Gonçalves) afirmava que voltou a acreditar no design como peça fundamental para a melhoria do mundo depois de um tempo de crise, mas que não via “como exercer o design desta maneira no mundo como ele está hoje”. Ele não é o único.

Em março deste ano, Philippe Starck, o renomado designer francês que nos brindou com sua fabulosa versão do que um espremedor de laranja não deve ser, respondeu à uma entrevista para uma revista alemã onde afirmava, melancólico: “O design está morto”. E complementou, dizendo que todo o trabalho de sua vida foi desnecessário e inútil. Com estas frases, Starck deixou de acreditar no design. Lucidez tardia?

A entrevista gerou respostas diversas. Sydney Glover, colunista do The Sydney Morning Herald, foi enfático: “Bem, o resto de nós poderia ter dito isso para ele”. Bruce Nussbaum, da revista americana BusinessWeek, citou alguns exemplos de designs que passaram longe de serem inúteis para a sociedade (ainda que não sejam obra do polêmico entrevistado) e preferiu abrir a questão para debate. Jill Fehrenbacher, do blog Inhabitat indagou se não era algum tipo de “crise de meia idade”.

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Menos de um mês depois, o mesmo Starck ressurge dizendo que está “de volta no jogo” e que agora apenas produzirá peças que colaborem para a sustentabilidade do mundo. O anúncio foi realizado em uma mostra paralela do salão de Milão intitulada “Greenergy Design”, onde Starck nos apresentou seu novo brinquedo – “Democratic Windmill”, uma turbina eólica caseira (maneira cool de dizer “cata-ventos”) que qualquer um (?) pode ter em casa a partir de setembro e assim suprir até 60% da necessidade de energia do lar. Derivados o petróleo, nunca mais. Envergonhem-se, fãs da Alessi. Assim como meu colega, Starck voltou a acreditar no design… mas como apontou Nussbaum e provou Gonçalves ainda ano passado, com um pouco de atraso.

Enquanto o Starck (Phillipe) passava por suas crises, outro Stark (o Tony) faturava milhões em bilheteria mundo afora. Tony Stark, como todos sabem, é o Homem de Ferro, um empresário milionário inteligentíssimo da indústria bélica que, após uma crise de consciência, monta uma armadura fantástica e vira super-herói. Eu proponho uma troca: ao invés do Phillipe, vamos tornar o Tony o exemplo-mor a ser seguido de designer contemporâneo. Como todo designer, ele passou por uma crise pessoal (foi sequestrado e passou a ver o mundo com outros olhos) e passou a usar suas habilidades fantásticas para o bem, produzindo uma (por que não?) obra-prima do design. Em meu outro artigo, eu escrevi que não existem designers super-heróis. Errei! Descobri vários. Não podemos esquecer também do saudoso MacGyver.

starkEm Terra Brasilis, um terceiro Starck dá uma aula do que é acreditar no design. Produzido pela TAC (Tecnologia Automotiva Catarinense) e desenhado pela Questto Design de São Paulo, o Jipe Starck é, sob vários aspectos, um paradoxo industrial. Em um mercado dominado por grandes montadoras mutinacionais, um grupo de empresários convenceram investidores, convenceram parceiros e, principalmente, convenceram a si mesmos. E acreditaram no design. E pra eles, acreditar ou não no design não é um luxo retórico, como no caso do Starck (o Phillipe) e outros designers, mas simplemente uma questão de sobrevivência. São as regras do mercado em sua aparência mais crua. (O jipe chegou a ser exposto no Museu da Casa Brasileira, em dezembro de 2007)

Existem “acreditares” e “acreditares” em design, mas há uma diferença entre o acreditar da indústria e o do designer. A indústria é pragmática: ela quer resultados. Já os designers podem até se deixar levar pro suas incertezas, mas estas devem ficar restritas a nossas próprias discussões – ao nosso próprio mundinho. Você contrataria alguém que não acredita em si mesmo?

O exemplo dos três Star(c)ks ilustra bem isso. O terceiro Starck é o design pragmático e sem crises de identidade aplicado na prática. Em se tratando de projetos de risco, não há lugar para incerteza. O segundo Stark mostra que mesmo quando não quer, a ficção imita a realidade (ou é a realidade que imita a ficção?). E o primeiro mostra o designer em crise consigo mesmo – a crise que passou pelo Tony e nem chegou no jipe. Mas Phillipe Starck é Phillipe Starck. Ele pode.

E você, com qual Starck se identifica?
(Eu sou mais o Tony Stark. A casa dele é muito mais legal e ele tem a Gwyneth Paltrow)

Entrevistargh! Pepperoni

Posted in Entrevistarghs! by empreendedorargh on 23/11/2008

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Entrevistada: Ana Paula Toniazzo Antonini
Área:
Design Gráfico.
Serviços que oferecem:
Projeto de marca e identidade corporativa, design editorial, web design e multimídia.
Sócias:
Ana Paula Toniazzo Antonini – Criação e Administrativo
Fernanda Machado de Souza – Criação
Lídia Arrais Carrijo – Criação e Fotografia
Todas as sócias são formadas em Design Gráfico pela Faculdade de Artes Visuais – Universidade Federal de Goiás.

Quantidade de funcionários: Três funcionárias
Localização:
Goiânia–GO.
Ano de fundação:
Junho de 2005
site:
http://www.pepperoni.com.br

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Qual foi sua formação?

Eu, assim como as outras sócias, me formei pela Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, Bacharelado em Artes Visuais com habilitação em Design Gráfico. Em meados do curso decidimos montar o escritório.

Como você era como aluno?

Pode-se dizer que eu era uma aluna muito dedicada. Chegava sempre nos horários, me dedicava muito a todas as disciplinas. Gostava de pesquisar as bibliografias que os professores indicavam, gostei muito do curso.

Hoje, depois de dois anos de formada, penso que a base teórica do curso influencia muito em tudo que crio.

Quais foram suas experiências profissionais pré-empresa?

Antes de nos juntarmos para montar o Pepperoni, de nós três apenas uma havia tido a experiência de trabalhar em outra empresa. O que fez muita falta inicialmente.

Porém hoje, todas nós já trabalhamos em outros lugares, agências voltadas para todos os ramos – gráfico, animação, websites. Essas experiências foram fundamentais para que conseguíssemos dirigir o escritório com mais maturidade.

De onde (e por quê) surgiu a idéia da empresa? Quanto tempo até ela se transformar na empresa em si?

Tudo começou no segundo ano de faculdade quando cinco colegas conseguiram um pequeno trabalho. Nos juntamos em um quarto no apartamento de uma das sócias (Lídia), e a partir daí foram surgindo clientes e mais clientes.

A transição de grupo de trabalho para escritório de design aconteceu rapidamente, pois a demanda de clientes exigiu que nos organizássemos.

Após um ano de escritório éramos somente três sócias, e em meados de 2007 mudamos para nossa sede própria.

Como foi o contato e a relação com o primeiro cliente?

Nosso primeiro cliente foi o que alavancou o escritório para seguir como empresa, pois já nos primeiros trabalhos nos solicitou a criação de uma linha inteira de embalagens para cosméticos. Tivemos que aprender muitas coisas logo de início, o que foi muito bom. Até hoje temos contato e desenvolvemos projetos para ele.

Qual foi seu maior fracasso?

Não sei dizer qual foi o maior fracasso. Talvez quando vimos que o nosso projeto foi inteiramente modificado depois de entregarmos para o cliente e ele levar para a produção. Vimos lançamento de um produto bastante diferente do que projetamos.

Hoje, como é seu cotidiano na empresa?

Atualmente atuo em todas as áreas do escritório, criação, administrativo e atendimento.

Porém, é para o administrativo que me dedico mais, organizo a parte financeira, e sempre procuro buscar novas ferramentas para a gestão do escritório. Vimos que sem organização, a empresa não funciona.

Como você lida com os aspectos administrativos da empresa?

Administrar qualquer empresa é uma tarefa muito difícil, especialmente quando você não possui formação voltada para a área. Procurei ler e pesquisar sobre assuntos administrativos. Temos ajuda, também, de uma pessoa formada em administração de empresas e de amigos de outros escritórios de design daqui.

O que você procura nos candidatos a emprego em sua empresa?

As principais características que um funcionário precisa ter são dedicação e responsabilidade. Precisa estar atento a tudo que acontece dentro dela.

Se dedicar e ser eficiente.

Como você vê a concorrência em sua área hoje?

Vemos a concorrência aqui, como algo muito positivo, temos muitos amigos em outros escritórios que nos ajudam, até nos indicam para clientes. Obviamente que a concorrência existe como em qualquer outra profissão, mas vemos como algo positivo que faz o escritório crescer muito.

Como é o mercado de trabalho na sua área para um jovem graduado em design?

Se o designer recém formado se esforçar e desenvolver um portfólio, que não precisa ser extenso, mas que tenha trabalhos bem executados, já possuirá grandes chances de ingressar no mercado. Vejo muitas vagas boas em lugares legais para trabalhar, só nas últimas duas semanas foram três.

Qual foi o maior sucesso da empresa?

Acho que não temos um “maior” sucesso. Já aconteceram várias coisas que nos deixaram realizadas. Mas sem dúvida nossa maior satisfação é ver que o cliente gostou do projeto, e que realmente conseguimos suprir a necessidade dele.

Você pode dar uma idéia do crescimento da empresa em faturamento e número de funcionários através dos anos?

Em números realmente não sabemos. Sabemos principalmente que os valores que cobrávamos enquanto ainda éramos estudantes e o escritório um bebê, são infinitamente menores do que o que cobramos hoje.

Possuímos em média 60% a mais de clientes mensalmente do que o que tínhamos a três anos.

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